“A avaliação participativa aumenta as chances de adoção das recomendações”
No segundo texto da série sobre avaliação participativa, conversamos com Pablo Rodríguez Bilella, professor na Universidade Nacional de San Juan (Argentina) e coordenador da Eval Participativa, iniciativa que busca reforçar a participação da sociedade civil nos processos de avaliação.
FGV EESP CLEAR: O que é, do seu ponto de vista, a avaliação participativa?
Pablo Bilella: Para mim, avaliação participativa é tanto uma abordagem quanto um estilo de fazer avaliação. É uma forma de realizar avaliações de maneira rigorosa, ao mesmo tempo incluindo a perspectiva e a voz das pessoas que participaram da intervenção que está sendo avaliada. A avaliação participativa segue as etapas de qualquer avaliação séria e rigorosa, mas com a participação de pessoas envolvidas diretamente na intervenção.
Quais são os pontos positivos e negativos da avaliação participativa?
Os pontos positivos estão relacionados à inclusão da perspectiva dos participantes, especialmente daqueles que normalmente são apenas consultados nas avaliações mais tradicionais. Uma avaliação participativa busca não apenas consultar as pessoas, mas integrá-las no processo de avaliação em suas diferentes etapas.
Elas podem, por exemplo, atuar na formulação das perguntas da avaliação, na coleta de dados e nas análises das informações, assim como na discussão sobre recursos e técnicas.
A participação dessas pessoas na disseminação dos resultados é outro ponto positivo, visto que isso aumenta as chances de adoção das recomendações. Afinal, elas ofereceram suas perspectivas para que essas recomendações ficassem ainda mais realistas.
Entre os pontos fracos de uma avaliação participativa está o fator tempo. Estamos falando de pessoas que provavelmente nunca tiveram uma experiência avaliativa e, portanto, precisam passar por um processo de capacitação. Outra fragilidade que observamos está na fase de análise. Há muito que avançar para que as pessoas se envolvam mais na análise de dados.
Quando você começou a trabalhar com essa abordagem? Como acredita que a demanda por este tipo de abordagem evoluirá ao longo do tempo?
Sempre me interessei pela pesquisa-ação, uma metodologia de natureza qualitativa que compartilha alguns princípios com a avaliação participativa. Tive experiências com essa metodologia tanto na prática como no estudo. Olhando para o futuro, acredito que devemos aprofundar as possibilidades, potencialidades e limitações da avaliação participativa, aproximando-a cada vez mais de processos rigorosos.
Alguma recomendação de caso ou exemplo de avaliação participativa?
Um caso muito rico, que de algum modo também foi um caso inaugural para a forma como estamos propondo a avaliação participativa em nossa iniciativa, foi a avaliação de um programa de prevenção do câncer na Costa Rica (clique aqui para saber mais). Até o final de 2024, publicaremos um livro com uma série de casos de avaliações com participação social em diferentes países da América Latina, incluindo dois casos do Brasil.
Não leu o primeiro post da série sobre avaliação participativa? Clique aqui!